terça-feira, 20 de março de 2012

RECONCILIAÇÃO (mais alguns poemas de João Corvo)


Preciso, urgentemente, reconciliar-me com os grilos!
Sempre que por esta altura nos juntávamos,
o conflito tornava-se inevitável. Parecia até
que já vestiam de luto pela sorte que lhes tocava.
Não era por mais serralha ou menos alface
que as coisas pioravam, não.
Tudo se prendia com a desigualdade
que entre nós existia:
As frágeis grades que me ajudavam a contê-los
eram ao mesmo tempo prisão de alta segurança
para os pobres que serviam a cantar
de asas levantadas em permanente concerto.
É urgente esta reconciliação.
A primavera chegou já com o seu tempo
empoleirado no sol ou num punhado de nuvens avarentas
- que o tempo não faz favores, faz e pronto –
e os grilos livram-se de mim.
De uma vez por todas!